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Baile de Máscaras

Atualizado: 27 de abr. de 2021

Atenção: O conto a seguir é uma obra de ficção voltada ao público adulto

O autor deseja uma boa leitura!

Att: Neres



Baile de Máscaras


A convidada esperada passava pelo portal do baile de máscaras oferecido pela imponente família Del-Vanllick, no incrível casarão dos governantes da cidade, tudo estava lindo, enfeitado com balaústres voadores, que sobrevoavam as cabeças dos convidados, todos tão ricos quanto a própria família que oferecia o baile, todos usavam elegantes e pomposas vestimentas, nos rostos alheios, via-se inúmeros tipos de máscaras, venezianas, carnavalescas, meias-face, máscaras inspiradas em animais, a pequena convidada era simplória e pouco chamativa perto dos nojentos convidados, cada qual com seu escravo pessoal na sombra dos seus donos, no centro da extensa mesa, um cervo inteiro fora colocado amostra, estava assado e com uma enorme melancia na boca, cercado por salada de alface e frutas frescas, a galhada da criatura fora colocada acima do portal de entrada do salão de festa, era magnífica, foi enfeitada com luzes que piscavam lentamente, dando ao ambiente um aspecto quase natalino, os músicos tocavam instrumentos, que por menores que fossem, seus valores de mercado seriam suficientes para alimentar todas as bocas dos escravos que ali se encontravam, se segurando para não desagradar seus mestres, e hora ou outra, conseguindo com sucesso beliscar alguma fruta ou pedaço de migalha da enorme mesa de jantar, os escravos se comunicavam entre si com olhares curtos e pouco expressivos, cada qual sentindo de longe e com muita força a fome um do outro, enquanto os convidados oficiais sorriam abertamente e conversavam uns com os outros, com pequenos gestos de superioridade alheia, disfarçados de falsa cortesia, uns conversavam sobre negócios, outros sobre política e reinados, mas todos subliminarmente criticavam rodas de conversas distantes ou mais próximas, com uma cordialidade pouco convidativa e cheia de preconceito e desgostos alheios. No meio do salão um grito de descrença foi dado, e uma menina foi estapeada no rosto por sua dona enquanto ela tentava timidamente apanhar uma uva de um cacho exposto no canto da mesa. Sua dona era uma mulher enorme, que mais parecia ser um urso do que uma pessoa, a mão pesada se fechou em punho, e acertou o meio da boca da garota, que tinha não mais do que nove anos de idade, era magra como um mosquito, e parecia pesar tanto ou menos do que uma pena, a convidada berrava aos quatro cantos, palavras de baixo calão que nem mesmo os mais desafortunados de cada beco escuro, saberia pronunciar, a menina não tinha forças para chorar, pois estava ocupada demais tentando não sujar o chão com seu sangue, que escorria como uma cachoeira vermelha sobre a face, sujando os trapos que eram chamados pela dona de "vestes", um apelido carinhoso, que mostrava bem que a vontade dela, era mesmo deixar que a menina se vestisse com os olhares da cidade na pele nua da garota, mas como era de má índole deixar uma menina andando por aí nua antes de sua maioridade, ela deixou que cobrissem o corpo da infeliz com algum tecido sujo de segunda mão que achara no porão de sua mansão. A multidão olhava para a cena com alegria contida, como se o que estivesse acontecendo ali fosse algo normal, e de fato era, os escravos trocavam risadas contidas por não serem eles no lugar da menina, e os convidados riam como se àquilo fosse um espetáculo surpresa do evento, a dona da festa se aproximou das duas. - Me perdoe madame. - Disse a dona da escrava mal educada cuspindo um pedaço de coxa de frango e mostrando seus dentes amarelos e sujos de gordura para a senhora Del-Vanllick num sorriso sem graça. - Esse animal não se porta bem em festas, é esfomeada o tempo inteiro, se quiser aplicar um castigo mais condizente, sinta-se dona dela. A senhora Del-Vanllick deu um sorriso simpático atrás da máscara veneziana que usava sobre os belos olhos lilases e brilhantes. - Ah, é claro, eu gostaria de pegar essa escrava para meu uso pessoal, que tal uma troca justa por ela madame Sellvalom? A música parou de repente. E todos se voltaram para a dona da festa em sinal de respeito e consideração ao que poderia sair daquela conversa repentina. - O que a senhora propõe? - Perguntou a dona da menina. - Proponho que você me presenteei com a garota. Os olhares caíram sobre a inocente criança. Por que diabos a senhora mais influente da cidade iria querer uma escrava tão frágil, pífia e aparentemente sem saúde alguma? - Vá em frente minha senhora, pegue a criança, mas já te alerto, ela irá dar bastante dor de cabeça para a senhora! A madame Del-Vanllick sorriu e estendeu a mão para a garota. - Eu imagino que sim! - Ela sorriu de maneira dócil. - Venha menina, eu irei te lavar para que inicie no seu novo trabalho. A garota apanhou a mão oferecida pela anfitriã, e a seguiu pela mansão, indo para o andar superior, no fim do corredor, chegou a um espaçoso banheiro, com paredes brancas e iluminadas por um enorme lustre ao centro do teto de gesso, as janelas eram cobertas por cortinas avermelhadas, e o chão preto e fosco dava a impressão de que estavam andando na superfície de um buraco negro, a menina foi guiada para o canto direito do aposento, onde um ofurô já estava preparado com fumaça saindo de dentro. A nova dona despiu a criança, ajudou ela a entrar na banheira de madeira, e lavou seu corpo enquanto conversava com a garota... - Você parece bem mau educada, rebelde, selvagem. - Dizia a mulher enquanto jogava água quente sobre a cabeça da menina - À partir de agora você aprenderá a ser uma lady, uma mocinha bem educada, uma pessoa de verdade, está me ouvindo? A menina assentiu de maneira tímida, sentia os lábios inchados, e não se atrevia a falar com medo de ser repreendida. Enquanto a mais velha lavava seu rosto, a garota deixou as lágrimas que segurava lavarem o rosto junto com a água quente. - Sabe, você acredita em Redders? - A garota sentiu a pele arrepiar com a pergunta da nova dona. Não respondeu, mas ela sabia o que eram essas criaturas. Passou-se alguns segundos em silêncio, enquanto a nova dona lavava educadamente e de maneira leve a região íntima da menina, ela se pôs a explicar: - Redders é uma classificação purista de criaturas, que nasce da junção de um vampiro e uma bruxa de magia negra, essas… coisas, se alimentam de vampiros, demônios e de outros seres sobrenaturais, têm fomes quase sempre insaciáveis, e quase nunca são amorosos... A menina se perguntou mentalmente por quê estava ouvindo tudo àquilo da nova dona, eram informações que não deviam ser conversadas com escravos, e a pequena tinha idade suficiente para saber disso. - Alguns chamam os Redders de carniceiros, outros os chamam de salvadores, mas nós… Nos chamamos apenas de necessários! Ao final da frase a menina deu um salto tentando fugir das mãos da nova dona, e sair do ofurô, mas foi impedida pela força desumana da mulher. Um sorriso simpático se formou nos lábios da mulher mascarada. - Não minha querida, não tenha medo, você é só uma humana, fraca, sem propósito e frágil demais para se manter nesse mundo sozinha... E se você não sabe, Redders têm biologicamente um pacto de vida, para com quem o transformou em um deles. - A mulher tirou a máscara veneziana, e encarou a pequena menina, os olhos dela eram lilases intensos, as íris dentro dos globos oculares eram como de gato, e a pele embaixo dos olhos, era escura como se um hematoma permanente tivesse sido posto ali, nas laterais de cada olho, a pele era ressecada e quase inteiramente coberta por veias e estrias escuras que se assemelhavam a patas de insetos. - Estou te dando a oportunidade de ser útil e alguém mais dona de si menina! Depois do que acontecer aqui, você será minha para sempre, e juntas iremos levar nossa família imortal para novos lugares do mundo! Você é a única coisa que faltava para alegrar essa casa, nós precisávamos de uma criança conosco! - A mulher fechou a mão livre sobre o frágil pescoço infantil, olhou-a nos olhos, enxergava o medo no olhar da garota, a menina havia sido hipnotizada mais cedo pela nova dona, para que pegasse aquela uva, e a antiga dona, hipnotizada para dar a criança de presente, a hipnose fazia parte do leque de habilidades dos Redders, a mulher depositou um beijo nos lábios da criança, ao toque dos lábios, a garota sentiu uma dor tortuosa, como se os lábios da mulher fossem feitos de ácido, sentiu um líquido amargo descer pela garganta, e os braços trêmulos e pernas inquietas foram aos poucos se acalmando, aos poucos o medo da garota foi desaparecendo, e uma serenidade inexplicável lhe tomou a mente, como se estivesse em transe. Ela foi retirada do ofurô, a sua nova senhora a enxugou, a vestiu com roupas limpas e leves, a menina se sentia hipnotizada pela presença marcante da nova dona, a mulher a guiou para frente de um imenso espelho coberto por uma cortina que ela não havia reparado quando entrou, a menina encarou o próprio reflexo, os olhos agora eram da mesma cor e tinham as mesmas pupilas dos olhos da nova dona, seu rosto não estava mais inchado ou marcado, as suas próprias laterais dos olhos e espaço entre um olho e outro estavam com aparência enrugada e muito branca, ela sentiu uma pontada de medo do próprio reflexo, a nova dona encarava a criança imortal, dando um sorriso sombrio para ela. - Vamos, você estava com fome quando apanhou aquela uva na mesa de jantar! - A nova dona apanhou a mão da menina e guiou ela pelo corredor de volta ao salão de festa, quando chegou ao topo da escada, ela fez um sinal para os músicos, a música parou, os convidados e os escravos trocaram olhares confusos, quando notaram a presença da mulher no topo dos degraus, voltaram as atenções para ela. Na entrada da mansão, dois dos seus servos fecharam a imensa porta de prata fazendo um barulho abafado é metálico ressoar pelo salão silencioso. - O objetivo deste baile já foi alcançado! Meus servos, músicos, e organizadores, a única humana no vilarejo já faz parte de nós! - A mulher varreu o salão de festa com os olhos, estendeu a mão quando encontrou o que procurava, e quando aproximou a mão do rosto, do chão os pés da antiga dona da menina alçaram voo, a mulher gorducha ficou pendurada em pleno ar, todos olhavam para ela. - Você é a única peça que irei retirar, porque sei que causaria intoxicação em qualquer um dos meus filhos! Del-Vanllick fechou o punho, e ao fazer isso, a antiga dona explodiu em milhares de gotas de sangue, banhando a multidão abaixo que expressavam olhares horrorizados e perplexos, fixos como gelo na dona da festa. - Agora sim, podemos iniciar o verdadeiro banquete! Ao longe no fundo do bosque onde ficava a mansão, um grito desesperado de horror foi ouvido por um veado que passava por ali, e segundos depois do primeiro grito, uma multidão de outros gritos se uniram, e em pouco tempo, nada mais foi escutado... Pelo menos não fora da mansão Del-Vanllick. Fim.

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