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O Demônio Artep

Atualizado: 27 de abr. de 2021

ATENÇÃO: O Conto a seguir é uma obra ficcional voltada ao público adulto, sua interpretação está a mercê do leitor.


Nota: O tratamento para o Alcoolismo existe, e se você tem problemas com o Álcool, busque por ajuda.

Site Oficial AA:


O autor deseja uma boa Leitura!

Att. Neres



O Demônio Artep


Scott havia sido parado novamente enquanto dirigia loucamente e sem rumo, discutindo calorosamente com a esposa, Zelda, que estava no banco do passageiro, enquanto o homem gritava palavras fortes e sem sentido, ela o encarava, com olhar perdido de novo, um tanto quanto vazio e com medo, o assunto se desdobrava, e o homem se acalmava mais e mais quando olhava para o colo de sua parceira, e lá fitava sua linda garrafa mágica, o material do que era feita, era desconhecido por ambos, Scott nunca contara a origem do artefato, mas Zelda não ligava para a origem, ela era tão capaz quanto ele de ver o objeto, mas não era capaz de usá-la para beber.

A garrafa tinha habilidades incomuns, de seu interior, uma pequena ponta de agulha no fundo dela, produzia um liquido agridoce, transparente e com um leve tom de dourado, de maneira ilimitada, como se a garrafa fosse à saída de um portal, no qual uma ponta era uma infinidade de hidromel, e a outra a ponta da agulha de vidro fosco que ficava sempre submersa no líquido. Scott aguardava a liberação dos policiais, dentro de sua mente bagunçada, ele lembrava pouco de como havia chegado ali, se sentia perdido, e de fato estava.

- Aqui está senhor. – Disse o policial entregando sua CNH e o encarando nos olhos. – Está liberado, aparentemente seu teste alcóolico deu negativo. Dirija com cuidado, tenha um bom dia.

Scott achou estranho o policial não cumprimentar sua esposa, mas sua pressa o impediu de questionar o homem, ele não tinha tempo para perder.

Ele apanhou o documento, ainda confuso e perdido, ainda não havia se acostumado com a ideia de possuir aquele estranho objeto, que lhe dava a possibilidade de poder se alcoolizar o quanto quisesse, sem que nenhuma tecnologia acusasse seu real estado de consciência, que por maioria das vezes, era de completo apagão, seu corpo apenas se movia sozinho, enquanto dentro de sua mente, ele estava em outro lugar, no ápice de sua embriaguez, ora num bosque escuro sendo interrogado por guardas florestais e caçadores de lobos, ora em um gramado bem aparado, sendo acordado por uma criança incomum enquanto a mesma corria pelo amplo espaço aberto sendo seguida de perto pela sua mãe aparentemente adotiva.

Em um de seus retornos de consciência mais claros, ele se lembrava de estar acordando numa sala de estar pequena, mal iluminada, e com um cheiro forte de café. Ele ouvia ao fundo o digitar de um teclado de notebook, enquanto a visão se ajustava, ele percebia na janela do aposento a silhueta de um homem, que aparentemente não se importava com sua presença ali. Quando ele sentiu falta de sua garrafa mágica, se levantou de supetão, procurando o objeto como um fanático.

- Está procurando por isso, rapaz? – Ele ouviu a voz do homem que digitava ressoar pelo aposento, sem virar o rosto para olhar para Scott, o escritor colocou a mão sobre a tampa rubra do frasco a sua direita na mesa do notebook. – Cuidado com o que está fazendo a você mesmo, meu jovem.

O escritor se virou lentamente, Scott sentiu-se paralisar, quando os olhos atrás das lentes redondas do homem o fitaram, eram olhos brilhantes e avermelhados, que mais lembravam o olhar de um corvo do que de um homem.

- Não vai querer perder mais do que ela, não é?

Scott não entendeu, o homem sentado na cadeira lhe estendeu o frasco rubro dando um sorriso com dentes alinhados, ele apanhou-o como se sua vida dependesse daquilo. Olhou para as laterais, procurando a saída, encarou o homem novamente com um olhar de dúvida.

O homem fez um gesto com a cabeça para sua lateral direita, e ali uma porta aberta surgiu, Scott correu para fora dali desesperadamente, enquanto abria a garrafa vermelha, e virava o gargalo nos lábios, chegando lá fora, escutou um grito feminino sussurrado em seus ouvidos, olhou para trás confuso, a casa onde estava desapareceu, e na sua frente agora estava sua antiga residência, ele respirou fundo e aliviado, havia anos talvez que não pisava em seu carpete de boas vindas, precisou espantar um gato enorme da entrada da casa para conseguir limpar os pés antes de entrar. O gato resmungou baixo, e deu passagem para o homem, estranhamente o felino desapareceu dos arredores quando Scott olhou a sua volta já dentro de casa, encarando o exterior pela porta com persiana de vidro.

Ele deu de ombros, estava vendo coisas, certamente estava. Ele tirou os sapatos, subiu as escadas para o andar superior, já estava sentindo os dedos dos pés congelando, quando percebeu que o chão do andar superior estava molhado, e exalava um forte cheiro alcóolico pelo ar, ele levou a mão direita ao nariz para tampá-lo, mas bateu com um frasco de gasolina em seu queixo, sem entender de onde ele tinha tirado aquilo, ele colocou o frasco de gasolina ao pé da parede, colocou a mão sobre a maçaneta do quarto, girou-a, e entrou.

Lá dentro ele encontrou um berço em chamas, e ao lado dele, a cama de casal na qual dormia com a esposa, estava iluminada pela luz da lua cheia, que passava pelo teto que já havia desmoronado e se encontrava fragmentado por todo o cômodo.

Ele encarou a cama coberta de cinzas de ossos, sentiu o rosto molhado, porém não sabia quando havia começado a chorar, levou a mão ao rosto para secar as lágrimas, mas notou a aspereza das cinzas das pontas dos dedos e encarou ambas as mãos, completamente perdido.

Sentiu uma mão tocando seu ombro, se virou para quem ali estava, era Zelda, ela entregou para ele as chaves do carro, dando um sorriso tristonho para ele. Ele seguiu o caminho inverso que tinha feito mais cedo talvez, o caminho estava completamente destruído, os cantos do corredor ainda estavam com chamas baixas, à tinta das paredes viravam pó, se juntando as chamas e consumindo o esqueleto da casa dentro das paredes de madeira.

Ele saiu da casa pela mesma porta que havia entrado. O sol já estava nascendo, e no carpete de entrada, ele apanhou a estranha garrafa vermelha que ele nunca havia visto na vida, ou já tinha visto aquele objeto antes? Não se lembrava. Sua esposa não estava junto a ele, ele abriu a garrafa, deu um forte gole, sentindo o doce descendo em sua garganta, fechando os olhos e sentindo serenidade.

Quando abriu os olhos, ele notou sua esposa ao seu lado, aparentemente ele havia dormido novamente.

- Onde estamos? – Perguntou a ela.

- Em algum lugar da estrada, talvez perto do bosque.

- Há quanto tempo estamos viajando?

- Você, talvez a dez ou vinte dias.

Scott olhou para a garrafa no colo de Zelda, ele vislumbrou um rosto estranho piscando em sua mente, um rosto feminino, cadavérico, pegando fogo, com os olhos brilhando como estrelas, ouviu uma voz feminina sussurrando:

- Eu posso devolvê-la a você, Scott, você só precisa aceitar esse presente, e terá ela sempre com você, para onde for, e para onde levá-la, o álcool tirou, mas eu devolvo!

Ele não entendia o que havia acontecido, mas sentiu um imenso desespero, ansiedade, e nervosismo, levou a mão ao objeto oferecido pela mulher em chamas, quando se deu conta do que estava fazendo, percebeu que a garrafa estava aberta, e do canto direito de sua boca escorria o hidromel, sua esposa ao seu lado usou o polegar para secar a bebida que escorria.

- Parece uma criança. – Ela sorriu encarando os olhos chorosos de Scott. – Espero que quando ele nascer, não seja um desastre como o pai é.

Zelda deu um sorriso afetado, Scott notou a mão suja de cinzas dela acariciando o ventre. Enquanto dirigia sentindo a velocidade e seus batimentos cardíacos aumentando, Scott olhou atentamente para os olhos sem brilho de Zelda.

- Há quanto tempo você está viajando comigo? – Perguntou, sem sentir que deveria perguntar isso.

Zelda fechou o semblante, ficando séria no mesmo momento.

- Scott... De novo isso?

- De novo? Como assim de novo?!

Ele olhava agora para as mãos tremendo no volante, enquanto sentia suor umedecendo a testa. Ele sentia a ansiedade crescendo em seu interior, ao seu lado, Zelda Sussurrou, de maneira que só ele ouvisse:

- Você sabe que não estou Scott... Agora preste atenção no caminho, antes que seja parado de novo pela polícia.



Fim.

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